BEM VINDO AO VIAGENS LITERARIAS

Este blog é uma espécie de porto, cadeira para descansar. Foi criado com o intuito de divertir, refletir, jogar conversa fora, partilhar experiências.

FIQUE À VONTADE!

quarta-feira, 16 de março de 2011

CONHEÇA O ESCRITOR IRLANDÊS OSCAR WILDE



Oscar Wilde nasceu em 16 de outubro de 1854 em Dublin, Irlanda. Filho de William Robert Wilde, cirurgião-oculista que servia à rainha. Sua mãe, Jane Speranza Francesca Wilde, escrevia versos irlandeses patrióticos com o pseudônimo de Speranza.


Foi educado no Trinity College, Dublin e mais tarde em Oxford. Lá ele recebe a influência de Walter Pater e da doutrina da "arte pela arte". Em 1879, vai para Londres, para estabelecer-se como líder do "movimento estético". Em 1881 é publicada uma coletânea de seus poemas. Em 1882, sem dinheiro, aceita participar de um ano de viagens entre USA e Canadá. Essa viagem lhe rendeu fama e fortuna.



Em 1884, casa-se com a bela Constance Lloyd. Com a publicação de "Retrato de Dorian Gray", sua carreira literária deslancha. Oscar e Constance tinham 2 filhos: Cyril e Vyvyan. Mas uma noite, Robert Ross, um hóspede canadense jovem, seduziu Oscar e forçou-o, finalmente, a confrontar-se com seus sentimentos homossexuais que o perseguiam desde a época em que era estudante.



Anos depois Oscar foi preso com acusações de conduta homossexual e sentenciado a 2 anos de prisão com trabalhos forçados, sendo a última parte em Reading Gaol. As condições calamitosas da prisão causaram uma série de doenças e o levou às portas da morte. Foi declarada, ainda, sua falência.



Morreu como um homem arruinado em 30 de novembro de 1900.



                                              Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que 'normalidade' é uma ilusão imbecil e estéril.

segunda-feira, 14 de março de 2011

PARA MILENA, UM POUCO DE SÁ CARNEIRO

          






A Queda

E eu que sou o rei de toda esta incoerência, 
Eu próprio turbilhão, anseio por fixá-la 
E giro até partir... Mas tudo me resvala 
Em bruma e sonolência. 

Se acaso em minhas mãos fica um pedaço de ouro, 
Volve-se logo falso... ao longe o arremesso... 
Eu morro de desdém em frente dum tesouro, 
Morro á mingua, de excesso. 

Alteio-me na cor à fôrça de quebranto, 
Estendo os braços de alma - e nem um espasmo venço!... 
Peneiro-me na sombra - em nada me condenso... 
Agonias de luz eu vibro ainda entanto. 

Não me pude vencer, mas posso-me esmagar, 
- Vencer ás vezes é o mesmo que tombar - 
E como inda sou luz, num grande retrocesso, 
Em raivas ideais, ascendo até ao fim: 
Olho do alto o gêlo, ao gêlo me arremesso... 

. . . . . . . . . . . . . . . 

Tombei... 
         E fico só esmagado sobre mim!... 

Mário de Sá-Carneiro, in 'Dispersão'



                                 Epígrafe
 
 
 
 
A sala do castelo é deserta e espelhada.
 
 
Tenho medo de Mim. Quem sou? De onde cheguei?...
Aqui, tudo já foi... Em sombra estilizada,
A cor morreu --- e até o ar é uma ruína...
Vem de Outro tempo a luz que me ilumina ---
Um som opaco me dilui em Rei...
 
                      Mário de Sá-Carneiro


sexta-feira, 11 de março de 2011

CONVERSA DE GRANJENSE

A LINGUAGEM DO GRANJENSE

Quando se nasce numa cidade chamada Granja você tem de se habituar às eventuais perguntas cretinas – “Na Granja tem muita galinha? – Uma vez, irritada, respondi a um desses engraçadinhos: “Não, tua mãe e tua irmã não moram lá!”. É, mais isso foi há algum tempo.Hoje, mais madura e mais zen não fico zangada com isso, afinal, é preciso levar a vida com bom humor”. Respondo que na Granja tem galinha, tem pato, tem vaca, tem cachorro, tem até gente. Tem poeta importante como Padre Osvaldo Chaves e Lívio Barreto; tem personagens históricos como o Pessoa Anta e tem anônimos generosos, gente bonita, gente feia.
            Pensando na minha cidade natal – Granja, interior do Ceará – lembrei-me de como ainda trago na linguagem algumas marcas de lá e pensei em compartilhá-las com você, caro leitor.
            Se vejo uma coisa estranha, extraordinária, solto logo a exclamação: “QUE ARRUMAÇÃO É ESSA?”; se estou num evento desagradável, pouco interessante considero-o “LHEGUELÉ”; se o dia está muito quente, numa daquelas terdes de quase 40 graus, elevo as mãos para o céu e reclamo “MEU DEUS, QUE CALOR MEDONHO”.
             Gente feia, é uma MARMOTA, quando aparece uma figura daquelas que quer parecer mais do que é, então lá me vem outra exclamação do fundo da minha alma linguística: “Ô INFERNO PRA DÁ CÃO”.
            O granjense não é indiferente ao sofrimento humano e para lamentar a vida difícil de alguém medita: “ESSE AÍ SOFRE MAIS QUE SOVACO DE ALEJADO”(uma alusão às antigas muletas), nada relacionado à preconceito, ou depreciação dos deficientes. Isso não, que granjense é educado e solidário.
            Mas há também os irritados que no meio da confusão ameaçam: “EU TE PLANTO A MÃO NA CARA”; ou ainda os mais violentos que prometem “SALGAR” o adversário. Isso mesmo, salgar, é uma expressão que significa derrubar no chão e fazê-lo comer areia (o sal, no caso). Mas, chega de violência, que esta crônica é para entretenimento.
            Na minha terra, não tem “palmeiras onde canta o sabiá”, mas tem carnaubais centenários, tem um rio exuberante e muita história pra contar.