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segunda-feira, 14 de março de 2011

PARA MILENA, UM POUCO DE SÁ CARNEIRO

          






A Queda

E eu que sou o rei de toda esta incoerência, 
Eu próprio turbilhão, anseio por fixá-la 
E giro até partir... Mas tudo me resvala 
Em bruma e sonolência. 

Se acaso em minhas mãos fica um pedaço de ouro, 
Volve-se logo falso... ao longe o arremesso... 
Eu morro de desdém em frente dum tesouro, 
Morro á mingua, de excesso. 

Alteio-me na cor à fôrça de quebranto, 
Estendo os braços de alma - e nem um espasmo venço!... 
Peneiro-me na sombra - em nada me condenso... 
Agonias de luz eu vibro ainda entanto. 

Não me pude vencer, mas posso-me esmagar, 
- Vencer ás vezes é o mesmo que tombar - 
E como inda sou luz, num grande retrocesso, 
Em raivas ideais, ascendo até ao fim: 
Olho do alto o gêlo, ao gêlo me arremesso... 

. . . . . . . . . . . . . . . 

Tombei... 
         E fico só esmagado sobre mim!... 

Mário de Sá-Carneiro, in 'Dispersão'



                                 Epígrafe
 
 
 
 
A sala do castelo é deserta e espelhada.
 
 
Tenho medo de Mim. Quem sou? De onde cheguei?...
Aqui, tudo já foi... Em sombra estilizada,
A cor morreu --- e até o ar é uma ruína...
Vem de Outro tempo a luz que me ilumina ---
Um som opaco me dilui em Rei...
 
                      Mário de Sá-Carneiro


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