BEM VINDO AO VIAGENS LITERARIAS

Este blog é uma espécie de porto, cadeira para descansar. Foi criado com o intuito de divertir, refletir, jogar conversa fora, partilhar experiências.

FIQUE À VONTADE!

terça-feira, 17 de maio de 2011

NOSSA!!!!! QUE SAUDADE!!!!!

TEM DUAS SEMANAS QUE NÃO POSTO ABSOLUTAMENTE NADA PORQUE ESTOU ABSOLUTAMENTE ATAREFADA. A SENSAÇÃO É DE SAUDADE. TER UM BLOG FOI UMA DAS COISAS MAIS FANTÁSTICAS QUE JÁ ME OCORRERAM. HOJE ESTOU EM CASA E, ENTRE UMA TAREFA E OUTRA DA INÊS, PASSEI AQUI PRA MATAR A SAUDADE E PROMETER QUE EM BREVE VOLTO A ESCREVER.

sábado, 7 de maio de 2011

DIA DAS MÃES

Poderá existir uma mãe capaz de definir o que é SER MÃE?
Talvez. A mim, entretanto, isso é impossível porque entendo a maternidade como um ato de vontade, um “vocare”, algo sobrenatural...

Amanhã é dia das mães. Não é dia das mulheres que têm ou tiveram filhos. É dia das mães. Daquelas que vêem seus rebentos como se nunca tivessem crescido e os chamam de “meu menino” embora ele já tenha 40 anos. Dia das mães que vibram com a vitória do filho e que choram quando algo dá errado; dia das mães que, cansadas, ensinam as tarefas de casa para o filho preguiçoso que chora, sente dor de barriga, dor nas costas, fome e sede na hora do dever de casa.
Dia das mães que vão pegar o filho no colégio e chegam esbaforidas, apressadas, estressadas... correndo com mochilas e filhos para o estacionamento ou para o ponto de ônibus. Dia das mães que perdem a hora do almoço para conseguir o desconto no melhor colégio para o filho.
Dia das mães que, por desventura, por fatalidade atroz que a mente esmaga, perderam seus amados filhos e ficaram com um vazio impreenchível na alma...
Dia das mães analfabetas que fizeram questão de ter filhos intelectuais, das mães sofridas que aprenderam a sorrir para o filho a fim de lhes mostrar o lado bom da vida; dia das mães que passaram fome com seus filhos, mas em momento algum desistiram de ser mãe.
Dia das mães negras, brancas, índias, mestiças... Daquelas que seriam capazes de matar ou morrer por seus filhos.

Amanhã é dia das mães! Aproveita para dar um abraço em quem tantas vezes te abraçou e, se não tens mais em tua companhia esse anjo iluminado, para, faz um minuto de silêncio e perceberás que ela nunca te abandonou porque...

AMOR DE MÃE É PARA SEMPRE.

domingo, 24 de abril de 2011

FERNANDO PESSOA POR FERREIRA GULLAR

Fernando Pessoa - A razão poética
(in Folha de São Paulo, Caderno Mais!, 10.11.96)
 


Ferreira Gullar analisa os heterônimos de Pessoa e contesta que eles sejam personagens teatrais, como defendeu o próprio poeta
 
Há 61 anos morria, em Lisboa, Fernando Pessoa, cuja obra, por sua complexidade e beleza, deu novo sentido e novo peso à literatura de língua portuguesa. Falar desse poeta e dessa obra equivale a mergulhar num atordoante labirinto de espelhos. O que é previsível, quando se lê o que ele mesmo disse em carta a João Gaspar Simões: "O estudo a meu respeito, que peca só por se basear, como verdadeiros, em dados que são falsos por eu, artisticamente, não saber senão mentir". Pode-se entender esse reparo como uma advertência, pertinente, aos críticos que costumam explicar a obra dos escritores por sua biografia. De fato, se em todo autor obra e vida de algum modo se entrelaçam ou se ligam, deve a crítica ter em conta que se trata de realidades diferentes, de linguagens diversas, que não se traduzem uma na outra. Sendo assim, o mesmo fato não terá igual significação na vida como na obra, ou seja, devemos ler a obra como obra e a vida como vida. Sem confundi-las.
No caso de Fernando Pessoa, porém, a dificuldade está na leitura da obra de um autor cuja vida parece se resumir à própria obra e que, ao mesmo tempo, põe em dúvida a cada momento a sua existência como gente e como autor da obra. Mas tampouco o faz de modo definido ou definitivo.
Assim abre diante de nós um labirinto de dúvidas e simulações:
"Se alguma vez sou coerente -diz ele-, é apenas como incoerência saída da incoerência"; ou então: "A origem mental dos meus heterônimos está na minha tendência orgânica para a despersonalização e para a simulação". Noutra ocasião afirma:
"Eu sou a sensação minha. Portanto, nem da minha própria existência estou certo".
Se nos detemos a analisar essa última frase, verificamos que ela é carente de lógica: se eu sou uma sensação minha, não posso ter dúvida quanto a minha existência, já que, para haver sensações, é necessário que haja alguém que as tenha. Trata-se, portanto, de um paradoxo. Mas a nossa lógica de pouco ou nada vale para contestar ou definir a alguém que, como Pessoa, nos responde: "O paradoxo não é meu. Sou eu".
E é verdade. Ou deve ser... talvez. Fernando Pessoa parece ter tido, desde sempre, enorme dificuldade em manter-se coerente.
Ele confessa: "Todos os meus escritos ficaram inacabados: sempre novos pensamentos se interpunham, associações de idéias extraordinárias e inexcludíveis, de término infinito". Há nele uma espécie de horror ao definido e ao definitivo: "Não posso evitar o ódio que têm meus pensamentos de ir até o fim: a respeito de uma simples coisa, surgem dez mil pensamentos e milhares de interassociações com esses dez mil pensamentos, e careço de vontade de eliminá-los ou detê-los, nem tampouco de reuni-los num pensamento central, onde os seus pormenores sem importância, mas associados, podem se perder. Introduzem-se em mim: não são pensamentos meus, mas pensamentos que passam através de mim. Não pondero, sonho; não me sinto inspirado, deliro".

A coerência impossível.
 
Pode-se deduzir dessa confissão que a impossibilidade de se manter coerente decorre, em Fernando Pessoa, de um lado de sua inteligência extraordinariamente rica e sensível e, de outro, de uma fraqueza ou indecisão fundamental que o impede de eleger a linha mestra do raciocínio e expurgar tudo o que, por mais interessante ou brilhante que seja, não pertença a ela.
Outra hipótese seria a de que ele subestima a coerência lógica em favor do efeito emocional das idéias e porque encontra na própria incoerência uma expressão emocional ou um perverso prazer intelectual. Não se pode esquecer que, entre as múltiplas faces da personalidade de Pessoa, há sem dúvida a de um certo esnobismo intelectual, o esforço para fugir do comum. Ele o diz pela boca de Bernardo Soares, o "autor" do Livro do Desassossego: "Repudiei sempre que me compreendessem. Ser compreendido é prostituir-me. Prefiro ser tomado a sério como o que não sou". Se se alega -como poderia fazê-lo o próprio Pessoa- que o que diz Soares, diz Soares, e não ele, Pessoa, podemos também lembrar-lhe outra de suas afirmações: "Só disfarçado é que sou eu". Definir Pessoa é como tentar fixar as imagens de um caleidoscópio em movimento.
Não obstante, nunca se pode descartar, no entendimento desse fenômeno -que se confunde com uma espécie de dispersão da personalidade-, causas verdadeiras, existenciais e até psíquicas, especialmente quando atentamos para afirmações como esta: "O caráter de minha mente é tal que odeio os começos e os fins das coisas, porque são pontos definidos. Aflige-me a idéia de que se descubra uma solução para os mais altos e mais nobres problemas de ciência e filosofia; horroriza-me a idéia de que uma coisa qualquer possa ser determinada por Deus ou pelo mundo.
Enlouquece-me a idéia de que as coisas mais momentosas possam realizar-se, de que os homens pudessem todos ser felizes um dia, de que se encontrasse uma solução para os males da sociedade".
E, após dizê-lo, adverte: "Contudo, não sou mau nem cruel; sou louco e isso dum modo difícil de conceber".
Não nos cabe aqui fazer o diagnóstico médico de Fernando Pessoa. Ele, sim, tenta fazê-lo numa carta a dois psiquiatras franceses, datada de 10 de junho de 1917, em que afirma: "Do ponto de vista psiquiátrico, sou um hístero-neurastênico, mas felizmente minha neuropsicose é bastante fraca". E aduz logo adiante: "Exceto nas coisas intelectuais, onde cheguei a conclusões que tenho como firmes, mudo de opinião dez vezes por dia; só tenho juízo assentado a respeito de coisas em que não haja possibilidade de emoção". E isso porque, segundo ele mesmo admite, "a emotividade excessiva perturba a vontade; a cerebralidade excessiva -a inteligência por demais apaixonada pela análise e pelo raciocínio- esmaga e amesquinha essa vontade que a emoção acaba de perturbar", e acrescenta: "Quero sempre fazer, ao mesmo tempo, três ou quatro coisas diferentes; mas no fundo não só não faço, mas não quero mesmo fazer nenhuma delas. A ação pesa sobre mim como uma danação: agir, para mim, é violentar-me".
Se Pessoa era ou não um "hístero-neurastênico", não importa aqui. No trecho citado, interessam-nos mais as referências à "cerebralidade excessiva -a inteligência por demais apaixonada pela análise e pelo raciocínio"- e à impossibilidade de agir. Esses dados podem explicar sua tendência a negar a realidade concreta do mundo objetivo, o estado de permanente desencanto diante da vida e da criação de personalidades fictícias nas quais projeta a vida que ele próprio não consegue viver.

Homossexualismo irrealizado
 
Mas há um outro dado a acrescentar a esse quebra-cabeças: o homossexualismo irrealizado de Fernando Pessoa. Mais uma vez recorremos a suas próprias palavras: "Não encontro dificuldade em definir-me: sou um temperamento feminino com uma inteligência masculina. A minha sensibilidade e os movimentos que dela procedem, e é nisso que consistem o temperamento e a sua expressão, são de mulher. As minhas faculdades de relação -a inteligência e a vontade, que é a inteligência do impulso- são de homem". Adiante ele diz: "Reconheço sem ilusão a natureza do fenômeno. É uma inversão sexual fruste. Pára no espírito". Mas vejamos o que se segue: "Sempre, porém, nos momentos de meditação sobre mim, me inquietou, não tive nunca a certeza, nem a tenho ainda, de que essa disposição do temperamento não pudesse um dia descer-me ao corpo. Não digo que praticasse então a sexualidade correspondente a esse impulso; mas bastava o desejo para me humilhar".
Esse texto deixa claro a drástica reprovação de Pessoa à prática do homossexualismo (que ele considera humilhante), assim como o temor de que, contra a sua vontade, esse impulso lhe descesse ao corpo e o submetesse. "Somos vários desta espécie, pela história abaixo'', afirma, referindo-se em seguida a Shakespeare e Rousseau, para sublimar seu receio "da descida ao corpo dessa inversão do espírito", "como nesses dois desceu". Seria descabido imaginar que, diante dessa ameaça, diante desse corpo que poderia a qualquer momento traí-lo, que Pessoa decidisse não viver, reduzir sua vida à vida da inteligência (sua parte masculina), e assim escapar à desgraçada possibilidade de tornar-se um homossexual? Não seria essa divisão interior -um homem e uma mulher na mesma pessoa- o início de sua despersonalização, da divisão do eu e ao mesmo tempo da invenção de outras personalidades, em lugar da sua própria, que lhe era, por pervertida, inaceitável? Por outro lado, a necessidade de ocultar esse impulso perverso não seria a primeira simulação que o levaria a tantas outras simulações?
Podemos responder sim ou não a essas hipóteses. Mas mesmo que respondamos sim, não esgotaríamos com isso o mistério da obra poética de Fernando Pessoa nem o enigma de sua personalidade, que dessa obra não se separa, porque, qualquer que seja a causa que determina o nascimento de seus poemas e a criação do seus heterônimos, a significação poética e o valor literário de sua obra pairam acima das explicações.
Não vamos, portanto, indagar agora pela origem de seus heterônimos, mas tentar compreender o que são eles. Num texto conhecido como ``Apresentação dos Heterônimos'' e que foi escrito como prefácio a uma projetada edição de suas obras, em 1930, possivelmente, Pessoa afirma: "O autor humano destes livros não conhece em si próprio personalidade nenhuma. Quando acaso sente uma personalidade emergir dentro de si, cedo vê que é um ente diferente do que ele é, embora parecido" (...) "Afirmar que esses homens todos diferentes, todos bem definidos, que lhe passaram pela alma incorporadamente, não existem -não pode fazê-lo o autor destes livros; porque não sabe o que é existir, nem qual, Hamlet ou Shakespeare, é que é mais real, ou real na verdade."

O poeta dramático
 
Essa alusão a Shakespeare não é fortuita, por várias razões, mas especialmente porque Pessoa se entende como um "poeta dramático" e seus heterônimos como equivalentes a personagens teatrais. É bastante conhecido o trecho de sua carta a João Gaspar Simões em que ele se define como tal: "O ponto central da minha personalidade como artista é que sou um poeta dramático; tenho, continuamente, em tudo quanto escrevo, a exaltação íntima do poeta e a despersonalização do dramaturgo. Vôo outro -eis tudo".
Em consequência disso, diz ele, "não há que buscar em qualquer deles (dos heterônimos) idéias ou sentimentos meus, pois que muitos deles exprimem idéias que não aceito, sentimentos que nunca tive. Há simplesmente que os ler como estão, que é aliás como se deve ler". Argumenta com o exemplo do poema oitavo do ``Guardador de Rebanhos'', "que escrevi com sobressalto e repugnância", afirma, ``pois que ali Caeiro usa de blasfêmia infantil e antiespiritualismo, quando nem uso de blasfêmia nem sou antiespiritualista". E acrescenta: "Alberto Caeiro, porém, como eu o concebi, é assim: assim tem pois ele que escrever, quer eu queira quer não, quer eu pense como ele ou não. Negar-me o direito de fazer isto seria o mesmo que negar a Shakespeare o direito de dar expressão à alma de lady Macbeth, com o fundamento de que ele, poeta, nem era mulher nem, que se saiba, hístero-epilético, ou de lhe atribuir uma tendência alucinatória e uma ambição que não recua perante o crime. Se assim é das personagens fictícias de um drama, é igualmente lícito das personagens fictícias sem drama, pois que é lícito, porque elas são fictícias e não porque estão num drama".
Acredito que, para melhor entendermos o fenômeno dos heterônimos, devemos examinar esta tese de Fernando Pessoa, na qual ele insiste repetidas vezes e a que confere indiscutível importância, a ponto de considerá-la a chave para o entendimento de toda a sua obra.
De meu ponto de vista, a explicação dos heterônimos -se eles são apenas pseudônimos de um único poeta que é Fernando Pessoa ou se são de fato poetas autônomos que ele criou do mesmo modo que um dramaturgo cria seus personagens- não alterará a avaliação qualitativa dos poemas a eles atribuídos, mas é impossível falar da obra poética de Pessoa, como um todo, ignorando a existência desses personagens-poeta.
A leitura, não apenas dos textos explicativos produzidos por ele, como dos poemas de Caeiro, Reis e Campos, deixa evidente a complexidade desse fenômeno e seu alcance profundo na personalidade literária e humana de Pessoa. Pode-se dizer mesmo que a sua obra poética tanto se constitui dos poemas todos que escreveu como igualmente desses personagens, que ele usa para ser outros ou que o usam para serem eles mesmos. Por isso, tentar entender que relação efetivamente existe entre Pessoa e seus heterônimos é tentar entendê-lo com criador literário.
Apesar da insistência de Pessoa em se definir como "poeta dramático" e afirmar que seus heterônimos equivalem a personagens teatrais, ponho em dúvida essa sua tese. Para justificar minha discordância, volto à celebre carta a João Gaspar Simões, já citada aqui. "Desde que o crítico fixe, porém, que sou essencialmente um poeta dramático, tem a chave da minha personalidade, no que pode interessá-lo a ele, ou a qualquer pessoa que não seja um psiquiatra, que, por hipótese, o crítico não tem que ser. Munido dessa chave, ele pode abrir lentamente todas as fechaduras da minha expressão. Sabe que, como poeta, sinto; que, como poeta dramático, sinto despegando-me de mim; que, como dramático (sem poeta), transmudo automaticamente o que sinto para uma expressão alheia ao que senti, construindo na emoção uma pessoa inexistente que a sentisse verdadeiramente e por isso sentisse, em derivação, outras emoções que eu, puramente eu, me esqueci de sentir", escreve Pessoa, tentando com isso mostrar o mecanismo de sua criação como poeta dramático. Sucede que, a meu juízo, esse não é o mecanismo da criação dramatúrgica.

Vaga biografia
 
O dramaturgo parte de personagem já existente (na vida real ou na sua imaginação) ou parte de uma situação dramática. Seu objetivo não é transferir sentimentos para expressões alheias ao que sentiu, mas expressar as emoções implícitas nas mais distintas situações da vida e dar existência aos protagonistas desses dramas. Macbeth não é resultado de um momento de despersonalização de Shakespeare e sim da capacidade do dramaturgo de viver integralmente o personagem, tanto em seu caráter como na situação dramática em que ele se encontra. A criação dramatúrgica não implica a substituição do autor pelo personagem, já que este é, de certa forma, uma expressão da personalidade do autor, afirmação dele como dramaturgo. Isso não significa, porém, que o personagem não possua traços próprios e não goze de uma autonomia relativa. Macbeth é, antes de mais nada, um homem numa situação dramática. Por isso, o que ele diz é o que só ele pode dizer e naquele momento; ele ou alguém que tivesse o mesmo caráter e se encontrasse na mesma situação. Sublinho este ponto porque reside aí a diferença fundamental entre um personagem dramático e qualquer dos heterônimos de Pessoa. Os heterônimos têm uma vaga biografia e, quando "falam" (escrevem), não o fazem como produto de uma situação determinada, como ocorre com Hamlet ou Macbeth ou Júlio César.
Tomemos o exemplo de Macbeth que, acreditando numa falsa profecia, dera vazão a sua sede de poder e a seus instintos sanguinários, traindo, assassinando, oprimindo. Quando, afinal, odiado por todos, cercado pelos inimigos, percebe que a profecia falhou e sente que o mundo desmorona sobre sua cabeça, tem uma explosão de revolta: "A vida é uma história contada com som e fúria por um idiota, e sem sentido algum". Essa frase terrivelmente negativa só poderia brotar na mente de um personagem furioso como Macbeth e posto na situação desesperadora em que se encontra no final de sua história. Não se trata de uma reflexão teórica e genérica, mas de uma manifestação contingente, por isso mesmo dramática.
Certamente, para que Macbeth seja assim e diga o que diz, é também necessário que o dramaturgo seja Shakespeare e não Molière ou Racine. Mas quem fala ali é Macbeth, não é Shakespeare. Porque Macbeth existe como personagem de uma história, existe numa história, e age e pensa em função das situações com que se defronta, sua existência é muito mais palpável, mais consistente, do que a dos heterônimos, e sua independência, com respeito ao seu criador, também muito maior.
De fato, como o que se conhece da vida de Macbeth ou de Hamlet são situações-limite, cuja alta intensidade dramática as imprime a fogo em nossa memória, nós os conhecemos melhor do que a Shakespeare, de quem temos vagas referências biográficas.
Noutras palavras, o conhecimento que temos de Shakespeare não é dramático, é prosaico, biográfico, como o conhecimento que temos de Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. E desse modo os papéis se invertem: Fernando Pessoa está mais vivo em nossa mente que seus heterônimos, porque dele, sim, temos um conhecimento dramático. Ele -e não Caeiro, Reis ou Álvaro de Campos- é que é o personagem com história e drama. Ele é que, aos cinco anos perde o pai, seis meses depois perde o irmão e, em menos de dois anos, ganha um padastro; ele é que vê morrer a avó, louca, e teme ele próprio enlouquecer; ele é que, desde cedo, percebe que não consegue viver; ele é que se sente como inexistente, como uma passividade que quase nada pode, a não ser se multiplicar em personagens fictícios; ele é que, homossexual que não se aceita, desiste de qualquer vida sexual; ele é que conhece a solidão e o vazio; ele é que conhece "a amargura essencial desta vida estranha à vida humana -vida em que nada se passa, salvo na consciência dela" e que, por isso, inveja o homem comum, normal, "que sente cansaço em vez de tédio e que sofre em vez de supor que sofre". Pode-se questionar se Fernando Pessoa era um poeta dramático, como ele se definiu, mas um personagem dramático, isso ele o foi seguramente.

A matéria poética
 
Por aí se vê que um personagem não precisa ser fictício para ser dramático, nem é essa condição que lhe empresta dramaticidade. Tampouco necessita, o personagem fictício, fazer parte de uma peça teatral. Alfred Prufrock, do célebre poema da Eliot, é um personagem dramático, como observa Edmund Wilson, porque nos é apresentado em situação dramática. Não é um heterônimo, nada se sabe dele além do que se deduz da própria leitura do poema, que é a expressão mesma de sua dramaticidade, um homem que envelhece solitário e que nunca ousou nada na vida, além de suas tímidas e frustradas fantasias.
Vê-se portanto que a relação de um dramaturgo com seus personagens não é igual à de Fernando Pessoa com seus heterônimos, mesmo porque estes não são a rigor personagens dramáticos. Isso não significa, porém, que não haja diferença entre Pessoa e os heterônimos, que eles não existam enquanto personalidades fictícias por ele criadas ou sejam fruto de mero capricho do poeta.
Não, os heterônimos são expressão necessária da personalidade de Fernando Pessoa, talvez que inicialmente como consequência de uma tendência à mistificação ou à simulação, conforme ele mesmo admite, mas que mais tarde tornaram-se parte essencial de seu universo intelectual, de sua elaboração da matéria poética. A novidade que é a criação dos heterônimos -fenômeno único na história da literatura-, longe de resultar de uma originalidade buscada, nasce das características especiais da personalidade de Fernando Pessoa e mesmo do que se poderia designar como suas deficiências.
É por não ter nunca certeza de nada, é por desconfiar da existência do mundo material à sua volta, por não distinguir firmemente as fronteiras entre o percebido e o pensado, por lhe parecer tão real -ou irreal- o que pensa quanto o que percebe sensorialmente, enfim, por não se saber quem é nem quantos é nem mesmo se é, por tudo isso ele se projetou nesses personagens fictícios, que usam de sua mente e de seu corpo para existir ou, pelo menos, para pensar e escrever. Mas se pode dizer também que é ele que os usa para assim assumir de modo efetivo as diferentes possibilidades de entendimento e indagação da existência que se oferecem à sua vertiginosa e comovida lucidez. Pode-se ainda encarar esses heterônimos com uma busca de alternativa para a visão desencantada e sofrida que se apreende nos versos de Fernando Pessoa-ele-mesmo:

``Com que ânsia tão raiva

Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora''
ou
``Sol frio dos dias vãos
Cheios de lida e de calma,
Aquece ao menos as mãos
De quem não entras na alma!''
ou
``Ditosos a quem acena
Um lenço de despedida!
São felizes: têm pena...
Eu sofro sem pena a vida''.
 
Esse sofrimento vazio, que não decorre das relações afetivas, das paixões e das perdas reais, esse sofrimento que dói mais por parecer fingimento que por parecer real, talvez encontre um consolo quando Pessoa se torna Alberto Caeiro e, na pele dele, vive uma vida menos doída. Como Caeiro, Pessoa aceita a realidade do mundo e se conforma com vê-la, sem se atormentar de indagações:

``Creio no mundo como um
/malmequer
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não
/compreender...
O mundo não se fez para /pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e
/estarmos de acordo
Eu não tenho filosofia: tenho
/sentidos...
Se falo na Natureza não é porque
/saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por
/isso,
Porque quem ama não sabe o que
/ama
Nem sabe por que ama, nem o
/que é amar...''

 
Alberto Caeiro é, assim, a manifestação de uma opção filosófica implícita na negatividade da visão de Fernando Pessoa: a descrença na possibilidade de, pela razão, compreender-se o mundo. Mas, em lugar de tal verificação conduzir ao desencanto ou ao desespero, conduz, em Caeiro, à aceitação tácita da realidade. O mundo existe, está aí, basta senti-lo, uma vez que "há metafísica bastante em não pensar em nada", e mesmo porque não há o que indagar, já que
Se Caeiro é a aceitação da vida sem pensar, Ricardo Reis é talvez a aceitação apesar do pensar. Para Caeiro, existir é um fato maravilhoso por si mesmo, e o mundo, que dispensa explicações, não terá tido nem começo nem terá fim, ou pelo menos não importa sabê-lo. Já Ricardo Reis sabe: sabe que o tempo passa e a vida é breve. Mas isso não o perturba:

"Mestre, são plácidas
Todas as horas
Que nós perdemos,
Se no perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flores".

 
Mas os heterônimos, se são alternativas filosóficas, são também alternativas estilísticas, aliás, como coerente decorrência da visão de mundo que cada um deles esposa. Ricardo Reis -que intensificou e tornou "artisticamente ortodoxo o paganismo descoberto por Alberto Caeiro"- escreve com o distanciamento e a objetividade de um clássico, sendo ao mesmo tempo moderno na exploração consciente da linguagem como matéria semântica e sensorial:

"O rastro que das ervas moles
Ergue o pé findo, o eco que /oco coa,
A sombra que se adumbra,
O branco que a nau larga -
Nem maior nem melhor deixa a /alma às almas,
O ido aos indos. A lembrança /esquece.
Mortos ainda morremos.
Lídia, somos só nossos".

 
Já Álvaro de Campos não tem nem a tranquilidade saudável de Caeiro nem a indiferença olímpica de Reis: ele é sôfrego, ávido e passional. O que mais pesa nele é a sensorialidade, mesmo a sensualidade, o corpo. Se não se ilude quanto à inutilidade de tudo, tampouco se nega à força da realidade que lhe faz vibrar os nervos:

"E há uma sinfonia de sensações
/incompatíveis e análogas.
Há uma orquestração no meu
/sangue de balbúrdia de crimes.
De estrépitos espasmados de
/orgias de sangue nos mares.
Furibundamente, como um
/vendaval de calor pelo espírito
Nuvem de poeira quente
/anuviando a minha lucidez
E fazendo-me ver e sonhar isto
/tudo só com a pele e as veias!".
 
Como Pessoa, ele não tolera as verdades definitivas:

"A razão de haver ser, de haver
/seres, de haver tudo,
Deve trazer uma loucura maior
/que os espaços
Entre as almas e entre as estrelas!
Não, não, a verdade não!''.
E nada de conclusões:
``A única conclusão é morrer".


E por ser tão preso aos sentidos, ao corpo, é natural que nele se manifeste o lado feminino de Pessoa, que Pessoa, por temor, reprime:

"Os braços de todos os atletas
/apertaram-me subitamente
/feminino,
E eu só de pensar nisso desmaiei
/entre músculos supostos
Foram dados na minha boca os
/beijos de todos os encontros,
Acenaram no meu coração os
/lenços de todas as despedidas
Todos os chamamentos obscenos
/de gestos e olhares
Batem em cheio em todo o corpo
/com sede nos centros sexuais.
Fui todos os ascetas, todos os
/postos-de-parte, todos os como
/que esquecidos, E todos os pederastas
/-absolutamente todos (sem /faltar nenhum)
Rendez-vous a vermelho e negro
/no fundo-inferno da minha alma!
(Freddie, eu chamava-te Baby,
/porque tu eras louro, branco e
/eu amava-te,
Quantas imperatrizes por reinar
/e princesas destronadas tu
/foste para mim!)''.


Esse dado talvez faça de Álvaro de Campos um heterônimo mais perto de Pessoa que os outros, mais perto da pessoa de Pessoa. Mesmo porque, como o cidadão Fernando Pessoa -ao contrário de Caeiro e Ricardo Reis-, Álvaro de Campos é citadino, urbano, metropolitano, contemporâneo das usinas e da luz elétrica:

"A dolorosa luz das grandes
/lâmpadas elétricas da fábrica
Tenho febre escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera
/para a beleza disto.
Para a beleza disto totalmente
/desconhecida dos antigos".

 
Por isso, estilisticamente, ele é "moderno", "futurista", entusiasmado com as novidades da civilização industrial, como um discípulo de Marinetti, que introduz na linguagem poética as palavras desse admirável mundo novo. Louva o cheiro fresco da tinta de tipografia, os cartazes colados há pouco, ainda molhados, os ``vients-de-paraître'' amarelos com uma cinta branca, a telegrafia sem fio, os túneis, o canal do Pananá, o canal de Suez... Álvaro de Campos guia automóvel e faz disso matéria de poema. Nem Caeiro nem Reis seriam capazes de semelhante proeza.
Voltemos à questão do relacionamento de Fernando Pessoa com seus heterônimos. Se esse relacionamento não é o mesmo que o dramaturgo mantém com seus personagens — e estou convencido de que não é —, o surgimento dos heterônimos não foi motivado pela necessidade (própria dos dramaturgos) de dar carne e realidade a personagens e situações. De fato, eles apareceram numa espécie de manifestação mediúnica, conforme conta o próprio poeta:
"Médium, assim, de mim mesmo todavia subsisto. Sou, porém, menos real que os outros, menos coeso (?), menos pessoal, eminentemente influenciável por eles todos. Sou também discípulo de Caeiro, e ainda me lembro do dia —l3 de março de 1914—, quando, tendo 'ouvido pela primeira vez' (isto é, tendo acabado de escrever, de um só hausto do espírito) grande número dos primeiros poemas do 'Guardador de Rebanhos', imediatamente escrevi, a fio, os seis poemas-intersecções que compõem a 'Chuva Oblíqua' ('Orpheu 2'), manifesto e lógico resultado da influência de Caeiro sobre o temperamento de Fernando Pessoa".

Mesma alma e mesmo corpo
 
Por não terem nascido de situações dramáticas, alheias à vida do autor ou tomadas objetivamente como tais, como a maioria das criações dramatúrgicas, os heterônimos não se desligam de Fernando Pessoa, já que é nele, e não em alguma peça teatral, que eles existem. Não é próprio da criação teatral esse coabitar dos personagens com o autor na mesma alma e no mesmo corpo, senão durante a concepção da peça. Escrita a peça, os personagens —esses fantasmas— abandonam o autor e se transferem para o texto escrito. O autor, por assim dizer, realiza desse modo um exorcismo: livra-se deles.
Os heterônimos, no entanto, jamais abandonam Pessoa, jamais se transferem para seus poemas que, por não serem peças teatrais, não os cabem, não têm neles suas situações de vida. Noutras palavras: os poemas são obras escritas pelos heterônimos e não o lugar em que transcorre sua vida. Eles não habitam os poemas, porque ninguém habita poemas. Eles habitam Fernando Pessoa. Convivem com eles, discutem com ele, misturam sua voz à dele, o influenciam. São portanto parte de Fernando Pessoa e compõem a sua personalidade contraditória e multiforme. Que Pessoa projeta e realiza neles tendências e qualidades pessoais está dito na carta de 13 de janeiro de 1935 a Adolfo Casais Monteiro. Pessoa escreve: "E contudo —penso-o com tristeza— pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida".

Ocultismo e visão olímpica
 
Nada nos autoriza, porém, a afirmar que os heterônimos "são" Fernando Pessoa, uma vez que ele pensa diferente deles1 e, em certas questões, o contrário deles. Dou como exemplo a carta a Marinetti, datada de 1917, em que ele diz que os sentidos só buscam "a razão física, exterior, superficial e empírica", e não a razão metafísica, "que só se descobre pelo pensamento puro, numa pureza inteiramente emocional", Com essas afirmações, Pessoa nega de uma única assentada tanto a visão de Caeiro ("pensar é não compreender") como a de Álvaro de Campos, cujo sistema está "baseado inteiramente nas sensações".
A adesão de Pessoa ao ocultismo contradiz inteiramente a visão olímpica de Ricardo Reis, como também a de Álvaro de Campos —voltado para o dinamismo da vida moderna— e a de Caeiro, para quem "o único sentido íntimo das coisas/ é elas não terem sentido íntimo nenhum". Outras tantas divergências entre Pessoa e seus heterônimos estão nas suas respectivas estatisticas.
Diante dessas constatações cabe perguntar: se os heterônimos não são expressão de situações existenciais específicas, dramáticas; se, portanto, não expressam visões contingentes ou geradas por situações próprias a eles (como Macbeth ou Hamlet) e, ao mesmo tempo, não expressam a visão de Fernando Pessoa, então por que eles os criou? Para contradizer-se? Para, por intermédio deles, manifestar suas contradições sem ter que assumi-las ou negá-las? Se não é por nenhuma dessas hipóteses, talvez reste apenas uma: ele os criou por razões poéticas e não por razões filosóficas; por razões afetivas, emocionais, e não por razões lógicas. Criou-os para exercer as múltiplas virtualidades de seu talento, que mal cabia numa só pessoa. E, por isso, talvez, mais correto séria chamá-lo —desculpem o trocadilho irresistível— Fernando Pessoas.

sábado, 23 de abril de 2011

A LENDA DO PEIXE SÔIA

Peixe Sôia
Esta estória eu ouvi muitas vezes minha vó Júlia contar, lá na Granja, quando eu era menina.
Diz que a Virgem Maria estava na beira do rio a lavar as roupinhas do menino Jesus. Querendo atravessar o rio, e como já estava próxima da maré (lugar de encontro entre o mar e o rio), Nossa Senhora teria perguntado a um belo peixe que por ali passava naquele instante:
- Sôia, a maré enche ou vasa?
A Sôia era um peixe muito arrogante e por ser muito  formosa, desprezava o resto da natureza. Então, como se diz no sertão, "arremedando" a Virgem, repetiu com desdém, entortando a boca e fazendo uma careta:
- Sôia, a Maré enche ou vasa?
A Virgem, repreendendo-a disse:
- Nunca mais desdenharás de tua Mãe!
Desde esse momento, a sôia ficou com a boca  torta e os olhos no alto da cabeça.
Diz a lenda - Isso era o que minha avó dizia - que crianças que respondem as mães também ficarão com a boca torta, como a Sôia.

           Antigamente, aprendíamos literatura da boca dos menos letrados. Escola era pra ensinar apenas o BEABÁ. Assistíamos menos à televisão, não nos isolávamos na Internet. As familias conversavam. E sua avó, ela contava lendas para você?

segunda-feira, 18 de abril de 2011

PARABÉNS A MONTEIRO LOBATO - 18 DE ABRIL, DIA NACIONAL DO LIVRO INFANTIL

O maior escritor infantil brasileiro de todos os tempos, José Bento Monteiro Lobato, nasceu em 18 de abril de 1882, em Taubaté (SP). Cresceu numa fazenda, se formou em direito sem nenhum entusiasmo, já que sempre quis ser pintor! Desenhava bem! Quando estudante, participou do grupo "O Cenáculo" e entre risadas e leituras insaciáveis, escreveu crônicas e artigos irreverentes. - Em 1907 foi para Areias como promotor público, casou com Maria Pureza com quem teve três filhos. Entediado com a vida numa cidade pequena, escreveu prefácios, fez traduções, mudou para a fazenda Buquira, tentou modernizar a lavoura arcaica, criou o polêmico "Jeca Tatu", fez uma imensa e acalentada pesquisa sobre o SACI publicada no Jornal O Estado de São Paulo. - Em 1918 lançou, com sucesso, seu primeiro livro de contos URUPÊS. Fundou a Editora Monteiro Lobato & Cia, melhorando a qualidade gráfica vigente, lançando autores inéditos e chegando à falência. - Em 1920 lançou A MENINA DO NARIZ ARREBITADO, com desenhos e capa de Voltolino, conseguindo sua adoção em escolas e uma edição recorde de 50.000 exemplares. - Fundou a Cia Editora Nacional no Rio de Janeiro. Convidado pra ser adido comercial em New York ficou lá por 4 anos (de 1927 a 1931) fascinado por Henry Ford, pela metalurgia e petróleo. Perdeu todo seu dinheiro no crash da bolsa. - Voltou para o Brasil, se jogou na Campanha do Petróleo, fazendo conferências, enviando cartas, conscientizando o país inteiro da importância do óleo. Percebeu, então, o quanto era conhecido e popular. Foi preso! Alternou entusiasmo e depressão com o Brasil. - Participou da Editora Brasiliense, morou em Buenos Aires, foi simpatizante comunista, escreveu para crianças ininterruptamente e com sucesso estrondoso, traduziu muito e teve suas obras traduzidas. - Morreu em 4 de julho de 1948 dum acidente vascular. - Suas obras completas são constituídas por 17 volumes dirigidos às crianças e 17 para adultos englobando contos, ensaios, artigos e correspondência.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

WILLIAM SHAKESPEARE


William Shakespeare (1564-1616), o mais famoso dramaturgo e poeta inglês de todos os tempos, compôs suas peças durante o reinado de Elizabeth I (1558-1603) e de James I, que a sucedeu. Casou-se em  1582 com Anne Hathaway, que tinha 26 anos e estava grávida. O casal teve uma filha, Susanna, e dois anos depois tiveram os gêmeos Hamnet e Judith. Por volta do ano de 1588, mudou-se para Londres e, em 1592, já fazia sucesso como ator e dramaturgo. Mas, eram suas poesias — e não suas peças — que eram aclamadas pelo público. Em virtude da peste, os teatros permaneceram fechados entre 1592 e 1594, impossibilitando seu contato com o público. Publicou dois poemas, "Vênus e Adônis", em 1593, e "O Rapto de Lucrécia", em 1594. Estes dois poemas e seus "Sonetos" (1609), que tornaram-se famosos por explorar todos os aspectos do amor, trouxeram-lhe reconhecimento como poeta. Escreveu mais de 38 peças, que estão divididas entre comédias, tragédias e peças históricas. Seus escritos são famosos até os dias de hoje, e suas atuações trouxeram-lhe riqueza (ele era sócio da companhia de teatro). Shakespeare não publicava suas peças, já que a dramaturgia não era bem paga. Na época, não havia direitos autorais. O autor pretendia que suas peças fossem representadas em vez de publicadas.

Com o dinheiro adquirido na companhia teatral, comprou uma casa em Stratford-upon-Avon e muitas outras propriedades, tais como hectares de terras férteis e uma casa em Londres. Escreveu a maioria de suas peças entre 1590 e 1611. Por volta de 1611, ele aposentou-se em Stratford-upon-Avon, onde havia estabelecido sua família.
Shakespeare
morreu em 23 de abril de 1616, no mesmo mês e dia tradicionalmente atribuídos como sendo de seu nascimento.


"O tempo é muito lento para os que esperam
Muito rápido para os que tem medo
Muito longo para os que lamentam
Muito curto para os que festejam
Mas, para os que amam, o tempo é eterno."


 
SONETO CV

Não chame o meu amor de Idolatria
Nem de Ídolo realce a quem eu amo,
Pois todo o meu cantar a um só se alia,
E de uma só maneira eu o proclamo.
 
É hoje e sempre o meu amor galante,
Inalterável, em grande excelência;
Por isso a minha rima é tão constante
A uma só coisa e exclui a diferença.

'Beleza, Bem, Verdade', eis o que exprimo;
'Beleza, Bem, Verdade', todo o acento;
E em tal mudança está tudo o que primo,

Em um, três temas, de amplo movimento.
'Beleza, Bem, Verdade' sós, outrora;
Num mesmo ser vivem juntos agora.

terça-feira, 5 de abril de 2011

40 ANOS, GRAÇAS A DEUS

Chego aos quarenta como quem entra  numa  festa que apenas começou.Sinto-me animada para esta nova etapa da vida.
Na verdade não tenho quarenta – Às vezes tenho quinze, dez, às vezes pareço-me com minha filha de 7 anos, empolgada assistindo as Crônicas de Nárnia.
Não tenho idade. E as tenho todas. De repente me vejo séria, planejando o futuro, feito a mulher de 40 que sou, outras vezes, penso na morte e calo profundo, como se já tivesse chegado aos 80. Mas hoje sinto-me exatamente na medida de minha cronologia. Feliz por ter chegado até aqui sem traumas e, sobretudo, por ter orgulho de ter quarenta. Por não me incomodar com as rugas que já se manifestam discretas, as gorduras localizadas, os cabelos brancos que tenho que tingir rotineiramente (Afinal, vaidade é tão saudável).
Estou feliz porque não sinto necessidade de mentir minha idade. Eu recebo o tempo e o que ele tem para me oferecer de experiência. Não desprezo o passado, também não me apego a ele como um “Dorian Gray” que não quer envelhecer. Entrego-me inteiramente a esse novo tempo.Que seja repleto de realizações como a década dos meus trinta anos. Que eu saiba sorver cada gole desta taça que me é servida nesse 5 de abril de 2011.



segunda-feira, 4 de abril de 2011

40 - A IDADE DA LOBA


A origem do termo idade da loba é o título do livro de Regina Lemos - QUARENTA: A IDADE DA LOBA.


Regina era proprietária da revista Marie Claire e, como uma das pioneiras da revolução sexual, resolveu publicar um livro sobre a situação das mulheres que, como ela, viveram as turbulências dos anos 60. A idéia que lhe ocorreu foi ouvir de própria voz o que faziam e pensavam naquele momento essas mulheres.
Nesta coletânea de depoimentos, 97 mulheres de todo o país, que viveram sua juventude nos rebeldes anos 60, mudando padrões de comportamento, revelavam como estavam encarando as transformações físicas e emocionais da meia-idade.
Ela se referia à essas mulheres como lobas, em alusão aos tempos em que elas se rebelaram contra a condição de chapeuzinho vermelho, para se equipararem aos homens, ou o lobo mau.
Quarenta anos era a média de idade em que se encontravam, quando o livro foi editado, aquelas mulheres que nos anos 60 foram "lobas". Com a repercussão que teve o livro, muitas pessoas entenderam que ao atingir os quarenta anos, a mulher chega à "idade da loba". Na verdade, 40 anos era a idade que tinha a loba, no conceito do livro.
Nos anos 60, homem era lobo mau e as donzelas, chapeuzinho vermelho. Com a liberação sexual, as mulheres que se rebelaram com essa condição também começaram a assumir a postura de loba má. Isto é, não são só os machos que podem fazer suas presas. As fêmeas também podem atacar e agir de modo semelhante aos machos.

domingo, 3 de abril de 2011

A DIFÍCIL TAREFA DE SER ÉTICO

             Para a filosofia o termo ética deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa). É um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética serve para que haja um equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está relacionada com o sentimento de justiça social.
           A decisão de ser um sujeito ético é pessoal e, como tudo na vida, tem suas consequências, seu preço. Numa sociedade em que todos querem tirar vantagem de tudo,  ser um indíviduo ético pode parecer ridículo e, no caso de um jovem, pode afastar a "galera in" de sua convivência. Afinal, por que não furar a fila, colar na prova, mentir, enganar? Todo mundo faz isso!!
           É no mínimo intrigante essa história de "todo mundo faz". Ora, eu não sou TODO MUNDO. Sou um sujeito único, insubstituível na minha individualidade, no meu ser e estar no mundo.
           Então, se furo a fila, se colo na prova, se participo do saque ao carro que tombou na estrada, a responsabilidade é minha, a falta de ética é minha. Não é uma falta coletiva, porque o ethos é individual, nunca coletivo.
          Que tal imaginar-se do outro lado? Do lado de quem perde pela sua falta moral? Então, imagine-se atrasado, cansado, após esperar por uma hora na fila e, de repente, alguém chega e é prontamente atendido sem ter ficado na fila, só porque conhece o caixa, o gerente. E então, como você se sentiria? Como se sentiria se seu carro tombasse na estrada e tudo o que você trouxesse nele fosse roubado porque você desmaiou no acidente? E então, tente imaginar-se nessa situação... Ruim?
          Vantagem a gente tira quando ajuda alguém, quando é capaz de sair da cadeira confortável e dá-la para alguém que precisa mais do que a gente; vantagem é poder assumir um erro, mesmo que choremos por isso; vantagem é poder ter certeza de que fizemos a coisa certa, mesmo quando não tiramos vantagem da situação.

quarta-feira, 16 de março de 2011

CONHEÇA O ESCRITOR IRLANDÊS OSCAR WILDE



Oscar Wilde nasceu em 16 de outubro de 1854 em Dublin, Irlanda. Filho de William Robert Wilde, cirurgião-oculista que servia à rainha. Sua mãe, Jane Speranza Francesca Wilde, escrevia versos irlandeses patrióticos com o pseudônimo de Speranza.


Foi educado no Trinity College, Dublin e mais tarde em Oxford. Lá ele recebe a influência de Walter Pater e da doutrina da "arte pela arte". Em 1879, vai para Londres, para estabelecer-se como líder do "movimento estético". Em 1881 é publicada uma coletânea de seus poemas. Em 1882, sem dinheiro, aceita participar de um ano de viagens entre USA e Canadá. Essa viagem lhe rendeu fama e fortuna.



Em 1884, casa-se com a bela Constance Lloyd. Com a publicação de "Retrato de Dorian Gray", sua carreira literária deslancha. Oscar e Constance tinham 2 filhos: Cyril e Vyvyan. Mas uma noite, Robert Ross, um hóspede canadense jovem, seduziu Oscar e forçou-o, finalmente, a confrontar-se com seus sentimentos homossexuais que o perseguiam desde a época em que era estudante.



Anos depois Oscar foi preso com acusações de conduta homossexual e sentenciado a 2 anos de prisão com trabalhos forçados, sendo a última parte em Reading Gaol. As condições calamitosas da prisão causaram uma série de doenças e o levou às portas da morte. Foi declarada, ainda, sua falência.



Morreu como um homem arruinado em 30 de novembro de 1900.



                                              Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que 'normalidade' é uma ilusão imbecil e estéril.

segunda-feira, 14 de março de 2011

PARA MILENA, UM POUCO DE SÁ CARNEIRO

          






A Queda

E eu que sou o rei de toda esta incoerência, 
Eu próprio turbilhão, anseio por fixá-la 
E giro até partir... Mas tudo me resvala 
Em bruma e sonolência. 

Se acaso em minhas mãos fica um pedaço de ouro, 
Volve-se logo falso... ao longe o arremesso... 
Eu morro de desdém em frente dum tesouro, 
Morro á mingua, de excesso. 

Alteio-me na cor à fôrça de quebranto, 
Estendo os braços de alma - e nem um espasmo venço!... 
Peneiro-me na sombra - em nada me condenso... 
Agonias de luz eu vibro ainda entanto. 

Não me pude vencer, mas posso-me esmagar, 
- Vencer ás vezes é o mesmo que tombar - 
E como inda sou luz, num grande retrocesso, 
Em raivas ideais, ascendo até ao fim: 
Olho do alto o gêlo, ao gêlo me arremesso... 

. . . . . . . . . . . . . . . 

Tombei... 
         E fico só esmagado sobre mim!... 

Mário de Sá-Carneiro, in 'Dispersão'



                                 Epígrafe
 
 
 
 
A sala do castelo é deserta e espelhada.
 
 
Tenho medo de Mim. Quem sou? De onde cheguei?...
Aqui, tudo já foi... Em sombra estilizada,
A cor morreu --- e até o ar é uma ruína...
Vem de Outro tempo a luz que me ilumina ---
Um som opaco me dilui em Rei...
 
                      Mário de Sá-Carneiro


sexta-feira, 11 de março de 2011

CONVERSA DE GRANJENSE

A LINGUAGEM DO GRANJENSE

Quando se nasce numa cidade chamada Granja você tem de se habituar às eventuais perguntas cretinas – “Na Granja tem muita galinha? – Uma vez, irritada, respondi a um desses engraçadinhos: “Não, tua mãe e tua irmã não moram lá!”. É, mais isso foi há algum tempo.Hoje, mais madura e mais zen não fico zangada com isso, afinal, é preciso levar a vida com bom humor”. Respondo que na Granja tem galinha, tem pato, tem vaca, tem cachorro, tem até gente. Tem poeta importante como Padre Osvaldo Chaves e Lívio Barreto; tem personagens históricos como o Pessoa Anta e tem anônimos generosos, gente bonita, gente feia.
            Pensando na minha cidade natal – Granja, interior do Ceará – lembrei-me de como ainda trago na linguagem algumas marcas de lá e pensei em compartilhá-las com você, caro leitor.
            Se vejo uma coisa estranha, extraordinária, solto logo a exclamação: “QUE ARRUMAÇÃO É ESSA?”; se estou num evento desagradável, pouco interessante considero-o “LHEGUELÉ”; se o dia está muito quente, numa daquelas terdes de quase 40 graus, elevo as mãos para o céu e reclamo “MEU DEUS, QUE CALOR MEDONHO”.
             Gente feia, é uma MARMOTA, quando aparece uma figura daquelas que quer parecer mais do que é, então lá me vem outra exclamação do fundo da minha alma linguística: “Ô INFERNO PRA DÁ CÃO”.
            O granjense não é indiferente ao sofrimento humano e para lamentar a vida difícil de alguém medita: “ESSE AÍ SOFRE MAIS QUE SOVACO DE ALEJADO”(uma alusão às antigas muletas), nada relacionado à preconceito, ou depreciação dos deficientes. Isso não, que granjense é educado e solidário.
            Mas há também os irritados que no meio da confusão ameaçam: “EU TE PLANTO A MÃO NA CARA”; ou ainda os mais violentos que prometem “SALGAR” o adversário. Isso mesmo, salgar, é uma expressão que significa derrubar no chão e fazê-lo comer areia (o sal, no caso). Mas, chega de violência, que esta crônica é para entretenimento.
            Na minha terra, não tem “palmeiras onde canta o sabiá”, mas tem carnaubais centenários, tem um rio exuberante e muita história pra contar.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

RELENDO ALICE EM QUARTETOS LIVRES


ALICE ATRÁS O COELHO...
ALICE DESCENDO... DESCENDO...
ALICE NUM MUNDO ESTRANHO,
OU SERÁ ALICE A ESTRANHA?

UMA LEBRE E UM CHAPELEIRO TOMANDO CHÁ
UMA RAINHA LOUCA – TODAS SERÃO LOUCAS?
A LOUCURA É O CETRO QUEM DÁ?
OS LOUCOS BUSCAM O CETRO?

ALICE NUM LUGAR ESTRANHO.
ALICE ENTRE AS FLORES BELAS,
BELAS E MAL HUMORADAS.
ALICE COM MEDO, CONFUSA.

ALICE, ANTECIPANDO-SE A RENATO RUSSO:
“QUE PAÍS É ESSE?”
ALICE ENTRANDO NO JOGO...
ALICE COLORINDO AS FLORES...

ALICE E A RAINHA DE COPAS
A RAINHA DE COPAS E O SEU REI SUBSERVIENTE.
ALICE CONDENADA: CORTEM-LHE A CABEÇA!
ACORDA, ALICE! JÁ É HORA DO ALMOÇO.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Cartas de uma Freira Portuguesa - Soror Mariana Alcoforado


Já no testamento materno Mariana fora nomeada monja do Convento da Conceição. Sem nenhuma inclinação mística,  ela estava, pois, destinada à vida vida religiosa, sorte idêntica à de muitos homens e moças da época, encerrados em mosteiros por mera decisão paterna.
Os amores com o Marquês de Chamilly, a quem vira pela primeira vez do terraço do convento, deve ter ocorrido entre 1667 e 1668. Sóror Mariana pertencia à poderosa família dos Alcoforados, e o escândalo provavelmente se alastrou. Temeroso das consequências, Chamilly saiu de Portugal, pretextando a enfermidade de um irmão. Prometera mandar buscá-la. Na sua espera, em vão, escreveu as referidas cartas, que contam uma história sempre igual: esperança no início, seguida de incerteza e, por fim, a convicção do abandono.

VEJA UMA DE SUAS CARTAS
Considera, meu amor, a que ponto chegou a tua imprevidência. Desgraçado!, foste enganado e enganaste-me com falsas esperanças. Uma paixão de que esperaste tanto prazer não é agora mais que desespero mortal, só comparável à crueldade da ausência que o causa. Há-de então este afastamento, para o qual a minha dor, por mais subtil que seja, não encontrou nome bastante lamentável, privar-me para sempre de me debruçar nuns olhos onde já vi tanto amor, que despertavam em mim emoções que me enchiam de alegria, que bastavam para meu contentamento e valiam, enfim, tudo quanto há? Ai!, os meus estão privados da única luz que os alumiava, só lágrimas lhes restam, e chorar é o único uso que faço deles, desde que soube que te havias decidido a um afastamento tão insuportável que me matará em pouco tempo.
Parece-me, no entanto, que até ao sofrimento, de que és a única causa, já vou tendo afeição. Mal te vi a minha vida foi tua, e chego a ter prazer em sacrificar-ta. Mil vezes ao dia os meus suspiros vão ao teu encontro, procuram-te por toda a parte e, em troca de tanto desassossego, só me trazem sinais da minha má fortuna, que cruelmente não me consente qualquer engano e me diz a todo o momento: Cessa, pobre Mariana, cessa de te mortificar em vão, e de procurar um amante que não voltarás a ver, que atravessou mares para te fugir, que está em França rodeado de prazeres, que não pensa um só instante nas tuas mágoas, que dispensa todo este arrebatamento e nem sequer sabe agradecer-to. Mas não, não me resolvo, a pensar tão mal de ti e estou por demais empenhada em te justificar. Nem quero imaginar que me esqueceste. Não sou já bem desgraçada sem o tormento de falsas suspeitas? E porque hei-de eu procurar esquecer todo o desvelo com que me manifestavas o teu amor? Tão deslumbrada fiquei com os teus cuidados, que bem ingrata seria se não te quisesse com desvario igual ao que me levava a minha paixão, quando me davas provas da tua.
Como é possível que a lembrança de momentos tão belos se tenha tornado tão cruel? E que, contra a sua natureza, sirva agora só para me torturar o coração? Ai!, a tua última carta reduziu-o a um estado bem singular: bateu de tal forma que parecia querer fugir-me para te ir procurar. Fiquei tão prostrada de comoção que durante mais de três horas todos os meus sentidos me abandonaram: recusava uma vida que tenho de perder por ti, já que para ti a não posso guardar. Enfim, voltei, contra vontade, a ver a luz: agradava-me sentir que morria de amor, e, além do mais, era um alívio não voltar a ser posta em frente do meu coração despedaçado pela dor da tua ausência.
Depois deste acidente tenho padecido muito, mas como poderei deixar de sofrer enquanto não te vir? Suporto contudo o meu mal sem me queixar, porque me vem de ti. É então isto que me dás em troca de tanto amor? Mas não importa, estou resolvida a adorar-te toda a vida e a não ver seja quem for, e asseguro-te que seria melhor para ti não amares mais ninguém. Poderias contentar te com uma paixão menos ardente que a minha? Talvez encontrasses mais beleza (houve um tempo, no entanto, em que me dizias que eu era muito bonita), mas não encontrarias nunca tanto amor, e tudo o mais não é nada.
Não enchas as tuas cartas de coisas inúteis, nem me voltes a pedir que me lembre de ti. Eu não te posso esquecer, e não esqueço também a esperança que me deste de vires passar algum tempo comigo. Ai!, porque não queres passar a vida inteira ao pé de mim? Se me fosse possível sair deste malfadado convento, não esperaria em Portugal pelo cumprimento da tua promessa: iria eu, sem guardar nenhuma conveniência, procurar-te, e seguir te, e amar-te em toda a parte. Não me atrevo a acreditar que isso possa acontecer; tal esperança por certo me daria algum consolo, mas não quero alimentá-la, pois só à minha dor me devo entregar. Porém, quando meu irmão me permitiu que te escrevesse, confesso que surpreendi em mim um alvoroço de alegria, que suspendeu por momentos o desespero em que vivo. Suplico-te que me digas porque teimaste em me desvairar assim, sabendo, como sabias, que terminavas por me abandonar? Porque te empenhaste tanto em me desgraçar? Porque não me deixaste em sossego no meu convento? Em que é que te ofendi? Mas perdoa-me; não te culpo de nada. Não me encontro em estado de pensar em vingança, e acuso somente o rigor do meu destino. Ao separar-nos, julgo que nos fez o mais temível dos males, embora não possa afastar o meu coração do teu; o amor, bem mais forte, uniu-os para toda a vida. E tu, se tens algum interesse por mim, escreve-me amiúde. Bem mereço o cuidado de me falares do teu coração e da tua vida; e sobretudo vem ver-me.
Adeus. Não posso separar-me deste papel que irá ter às tuas mãos. Quem me dera a mesma sorte! Ai, que loucura a minha! Sei bem que isso não é possível! Adeus; não posso mais. Adeus. Ama-me sempre, e faz-me sofrer mais ainda.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

JOVEM LÊ, SIM SENHOR!

Os jovens brasileiros a cada dia que passa lêem mais livros e isso vem ajudando e tendo reflexos positivos nas provas como o Enem. Segundo uma revista de pesquisa nacional, os jovens brasileiros são muito apaixonados port historias que narram historias jovens, e de fantasia.
Veja a lista dos livros mais lidos pelos jovens no Brasil.
Os autores ou autoras desses livros, parecem entender a mente jovem, pois eles parece que eles contagiam os jovens que ficam fissurados por esses livros, pois milhões e milhões de jovens no mundo todo se contagiam, e quando se trata de alguma saga, onde se tem mais de uma edição do livro, muita gente faz até mesmo contagem regressiva para o próximo lançamento, e assim que possível, compram e lêem.

Alguns fazem mais sucesso com as meninas, outros já são iguais, e alguns também fazem sucesso com a rapaziada, que também se emocionam enquanto lêem, e quando esse livro bate recordes de venda, ele acaba virando um longa metragem, para que mais pessoas possam estarem por dentro da história, sem a necessidade de ler o livro, e aquelas que já leram, também lotam os cinemas por todo o mundo.


Esses livros são vendidos em média por preços não tão acessíveis, mas batem todos os recordes em vendas, pois suas histórias são bastante convincentes e agrada a milhões e milhões de jovens por todo o planeta, portanto, se você é fã de algum ou alguns desses livros mais vendidos no mundo, fique atento para a próxima edição, afinal de contas, muita gente estará em busca de um exemplar o quanto antes possível.

Muita gente gosta de além de ler esses livros, também colecionarem, para uma releitura assim que tiverem vontade, sendo assim, acabam também mantendo uma mini biblioteca com todos os livros que goste e com todos os de uma mesma saga, com história seguidas em livros de uma mesma história.


  • Harry Potter e as relíquias da morte
  • Crepusculo
  • Lua Nova
  • Amanhecer
  • Gossip Girl
  • Coração de tinta
  • Querido diário otario
  • O diário da princesa
  • Eragon
  • O ladrão de raios
  • O pequeno príncipe
  • Contos de beedle o bardo